Estudos apontam que os cães se autodomesticaram ao se aproximarem dos seres humanos em busca de recursos para sobrevivência, como comida, abrigo e segurança. Assim, se iniciou um processo de cooperação que persiste até os dias de hoje.
Durante um período dessa relação entre cães e humanos, o propósito era atender uma demanda de trabalho, como a caça, guarda, pastoreio, esportes, entre outras. Para que isso ocorresse com sucesso, além do desenvolvimento genético, os cães e humanos precisaram estabelecer um meio eficiente de se comunicar.
Sendo assim, nos anos 1920 foram estabelecidos os comandos tradicionais de obediência. Primeiramente para fins militares e policiais, tinham como objetivo dar ao condutor controle sobre os movimentos dos cães. Os principais comportamentos são: sentar, deitar, ficar, vir e andar junto.
Na Jeito Animal, nós adotamos uma visão diferente da aplicação desses comportamentos. Ao invés de comandos de obediência, denominamos como exercícios de comunicação. O propósito é melhorar a comunicação entre cão e tutor, sem imposição de comportamentos, mas sim como um meio de comunicação. Inclusive, ensinamos outros exercícios além desses cinco, como o não, deixa, solta, caminha, seu lugar, busca, entre outros, de acordo com a demanda de cada família.
O cão, após receber o sinal, seja em forma de gesto e palavras, passa a entender quais comportamentos são desejáveis ou não em cada situação. Os cães são extraordinários com seu olfato e possuem uma audição aguçada, mas o sentido fundamental no processo de comunicação entre os seres humanos e cães é a visão. Os cães aprendem muito pela observação e estão sempre atentos aos nossos movimentos.
E na prática? Como ensinar esses exercícios e utilizar no dia a dia?
Por exemplo, um cão que pula muito quando chega visitas. Nesse caso, podemos ensinar o “senta”, para que o cão, ao invés de pular, opte por sentar para conseguir o que deseja – nesse caso, a atenção. E se, mesmo assim, o cão continuar pulando? Bom, podemos mudar a estratégia e ensiná-lo a ir para um lugar específico, deitar e ficar ali quando a visita chegar. As possibilidades são diversas, para cada caso adaptamos esses exercícios.
Outra situação: cachorro que foge quando abre portão ou porta. Nesse caso, ensinamos uma sequência para o cão, como: “senta, deita e fica”. Ele passa a relacionar a abertura da porta ou do portão com esses comportamentos, chamamos isso de contra condicionamento, uma vez que o cão estava condicionado a sair correndo com a abertura.
Podemos usar esse mesmo exercício para o cão criar independência e não ficar seguindo o tutor em todo lugar que ele vai. O chamado comportamento de “sombra” é comum em cães que apresentam ansiedade por separação. O cão pode aprender a ficar mais tempo sozinho e entende que isso não é ruim para ele.
O aprendizado exige dedicação e paciência, pois cada animal aprende no seu tempo. Além disso, a melhor forma é ensinar o cão primeiro em ambiente como baixo estímulo e, gradativamente, passar para ambientes com mais estímulos, como a rua. Por exemplo, se o cão puxa no passeio, vamos antes ensiná-lo a andar junto em um ambiente com baixo estímulo, dentro de casa. Depois, passamos a ir até à garagem, corredor, elevador, até chegar na rua com o cão atento ao condutor.
Ensinamos isso sem o uso de enforcadores, aversivos como spray de água, broncas, choques. Isso é prejudicial para a saúde emocional do cão e para a comunicação entre tutor e cão.
O mais interessante é que esses exercícios também podem servir de base na comunicação com outros animais, como os gatos, cavalos e até aves. Basta o tutor ter paciência e, claro, um petisco muito gostoso. Além de melhorar a comunicação entre tutor e pet, esses exercícios servem como exercício físico, mental, principalmente nos dias de chuva, em que os bichinhos ficam agoniados em casa. Bora ensinar seu pet?