A castração é um procedimento irreversível que consiste na retirada dos órgãos reprodutivos dos animais. No caso das fêmeas, são retirados os ovários e útero e nos machos são retirados os testículos. Com a remoção desses órgãos, os animais não possuem mais a capacidade de reprodução e de produção de hormônios sexuais.

Quando falamos em procedimentos cirúrgicos, é sempre necessário avaliar as indicações, pontos positivos e negativos. Muito se fala sobre a castração e como ela é importante para saúde e bem-estar do animal. De fato, existem momentos que o procedimento de castração é indicado – ou mesmo essencial – para preservar a saúde, mas sempre temos que refletir que cada indivíduo é único e têm diferentes demandas, diferentes problemas físicos e comportamentais e são inseridos em distintos contextos sociais.

Isso nos faz questionar, quando a castração é indicada?

Contextos em que se inserem questões de saúde pública: animais de rua ou semi-domiciliados. Neste caso, a castração se torna a principal medida para ter um controle populacional, reduzindo o número de cadelas prenhas. De longe é a maneira mais eficaz para resolver o problema, sendo necessário um conjunto de medidas e ações sociais para conscientização da sociedade.

A castração também é o principal procedimento cirúrgico indicado para tratamento de doenças relacionadas ao trato reprodutivo. Nas fêmeas, tumores em ovário, útero, piometra (infecção uterina), e pseudociece (gravidez psicológica), geralmente causada por um desequilíbrio hormonal, e afeta o comportamento da cadela no período pós-cio. Ela, de maneira geral, é transitória e tratável com medicações, mas se se tornar recorrente e mais intensas, a castração é uma possibilidade para dar fim aos episódios.

Quanto aos tumores de mama, se acreditava que, castrando antes do primeiro cio, se impediria a possibilidade de seu desenvolvimento. Hoje sabe-se que não são todos os tumores que são hormônio-dependentes e deve ser feito exames de histopatologia para confirmar sua origem. Em casos que são relacionados com hormônios, a castração será sim indicada e benéfica. E é prudente sempre realizar o procedimento após a retirada da cadeia mamária, nunca no mesmo procedimento pelo risco de agravar o caso.

Em machos, quando há problemas de hiperplasia prostática benigna, tumores em testículo e quando há tumores perianais, a castração auxilia no tratamento. Diferentemente das fêmeas, cães podem ter mudança de comportamento e reduzir problemas de marcação territorial e fugas, mas não é uma regra.

Já que pontuamos as partes positivas da castração, vamos também comentar quando ela não é indicada. Algo que é relativamente novo na medicina veterinária é a discussão sobre a homeostase hormonal. Quando retiramos as gônadas, não há mais produção de testosterona, estrogênio e progesterona (hormônios sexuais) e fica um déficit no organismo. Você deve imaginar o impacto que isso causa no desenvolvimento físico, comportamental e sexual de um animal.

Obesidade, problemas comportamentais, incontinência urinária em fêmeas são relatos frequentes que costumam acompanhar a clínica de animais castrados. Se ainda feita de forma precoce, pode aumentar a incidência de problemas ortopédicos e de tumores agressivos, principalmente em cães de grande porte. Por isso, é indicado adiar a castração, aguardar o desenvolvimento total da maturidade sexual ou simplesmente não castrar.

Ainda, cadelas que apresentam problemas comportamentais como medo, insegurança e agressividade tendem a piorar esse comportamento após a castração. Tanto pela experiência e associações negativas que acontecem no procedimento quanto pela queda hormonal repentina. Cães machos não costumam apresentar tanta mudança de comportamento no pós-operatório, mas não podemos descartar a possibilidade.

A castração é indicada para um indivíduo, não para uma população. Deve ser avaliada a necessidade de pontuar os pontos positivos, mas também analisar os riscos e consequências que o procedimento pode trazer. Recomendo que discuta com o médico veterinário de confiança para explicar os prós e contras e chegar à melhor solução para o seu amigo. Castrar pode ser uma forma de amor, mas nem sempre é indicada.

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